Um Convidado Bem Trapalhão (The Party) - 1968. Dirigido por Blake Edwards. Escrito por Blake Edwards, Tom Waldman e Frank Waldman. Direção de Fotografia de Lucien Ballard. Música Original de Henry Mancini. Produzido por Blake Edwards. The Mirisch Corporation / EUA.
Um Convidado Bem Trapalhão (1968) foi o último fruto de uma parceria de sucesso entre o ator Peter Sallers e o diretor Blake Edwards, que rendera a clássica franquia de A Pantera Cor de Rosa. Apesar de figurar em diversas daquelas famigeradas listas de melhores de todos os tempos, o filme não tem, ao menos ao meu ver, nada de tão excepcional. A habilidade da atuação de Sallers e o timing preciso de Edwards na construção das gags são claramente perceptíveis, mas durante todo o filme a impressão que fica é a de que falta algo que justifique a ovacionação dele pela crítica e por alguns cinéfilos. É uma comédia engraçada, mas não do tipo que te faz dar gargalhadas, a trama tem diversos pontos positivos e ótimos momentos, mas nada que já não tenhamos visto em outros clássicos do humor que o precederam.
Um Convidado Bem Trapalhão (1968) foi o último fruto de uma parceria de sucesso entre o ator Peter Sallers e o diretor Blake Edwards, que rendera a clássica franquia de A Pantera Cor de Rosa. Apesar de figurar em diversas daquelas famigeradas listas de melhores de todos os tempos, o filme não tem, ao menos ao meu ver, nada de tão excepcional. A habilidade da atuação de Sallers e o timing preciso de Edwards na construção das gags são claramente perceptíveis, mas durante todo o filme a impressão que fica é a de que falta algo que justifique a ovacionação dele pela crítica e por alguns cinéfilos. É uma comédia engraçada, mas não do tipo que te faz dar gargalhadas, a trama tem diversos pontos positivos e ótimos momentos, mas nada que já não tenhamos visto em outros clássicos do humor que o precederam.
Penso que o melhor do filme não é sua veia cômica, mas sim a crítica sofisticada que que ele faz aos bastidores de Hollywood. Produtores, diretores e atores são mostrados como indivíduos cheios de si e arrogantes, eles não conseguem assimilar o diferente e fazem de tudo para manter as aparências. Os toques de ironia espalhados pelo roteiro ficam evidentes nas interações entre Hrundi Bakshi (Peter Sallers), o personagem principal, uma espécie de intruso em um meio hostil, e seus anfitriões e demais convidados. Em uma das sequências mais memoráveis, Hrundi se apresenta dizendo que veio da Índia, seu interlocutor, um ator de faroestes, o confunde então com um indígena americano. Em outra sequência, um produtor tenta assediar uma atriz iniciante a quem introduzira no meio e dava “apoio”, esta uma alegoria perfeita da forma com que a indústria trata as novas ideias e os novos profissionais.
Não sei se esta crítica feita aos "hollywoodianos" foi ou não intencional, Blake Edwards nunca a admitiu publicamente, mas como o ano era 68 (o ano que não terminou como bem diria Zuenir Ventura), qualquer indício de politização e contestação era percebido rapidamente e a revista francesa Cahiers du Cinéma (que tinha em seu expediente Godard, Truffaut, Rivette e Chabrol) não deixou este passar batido, em seu artigo publicado no periódico o crítico Pascal Bonitzer resumiu: “Um ator que simboliza o terceiro-mundo destrói uma mansão que simboliza Hollywood – uma alegoria da revolução que vai revolucionar o cinema”. Tal interpretação pode ser um pouco exagerada, mas dada a época em que foi publicada, ela era realmente válida, pois de alguma forma o filme ilustrava uma parte da revolução política e estética que o cinema então experimentava.
Hrundi é um ator sem nenhum prestígio em Hollywood, ele não nasceu para ser galã e ainda tem um dom infalível para fazer burradas e atrair confusão. O prólogo do longa o mostra durante as filmagens de um épico no qual ele está atuando como coadjuvante. Ele consegue atrasar o andamento das gravações por não aceitar encenar a morte de seu personagem, um tocador de trombeta que se recusa a tombar ao ser atingido em batalha. Isso deixa o diretor do filme enfurecido, mas este é só o começo, em seguida o coadjuvante aparece em outra cena usando um relógio de pulso, algo inconcebível em filme que se passa em 1878. No entanto, a paciência do diretor vai para as aturas é quando Hrundi consegue acionar acidentalmente o detonador de um explosivo que destrói parte da locação antes da hora prevista.
O diretor garante que o desastrado nunca mais irá atuar nem no cinema nem na televisão, ele então liga para um dos magnatas de Hollywood e lhe propõe um boicote ao ator. A verdadeira confusão, que dá o mote ao filme, acontece no momento que este magnata anota o confuso nome do encrenqueiro, sem perceber ele escreve o nome no rodapé de uma lista de convidados para um festa de gala, que ele daria em sua mansão. Hrundi é então convidado por engano, dispensável dizer que ele aceita prontamente o convite e aparece na festa mesmo sem conhecer ninguém que estará lá. Durante boa parte da noite ele fica perdido tentando se relacionar com outros convidados, o que não é uma tarefa fácil, pois nenhum deles, com exceção do já citado ator de faroeste, consegue enxergar além de seus próprios egos.
Quando começou a rodar Um Convidado Bem Trapalhão, Blake Edwards tinha pouco mais de 50 páginas de roteiro escrito, quase tudo que vemos na tela é resultado da improvisação dele e do ator, que acreditavam já ter uma química bem desenvolvida, mas a verdade é que isso por si só não foi o suficiente. A carência de um roteiro fica explicita em algumas sequências bem irregulares, que parecem destonantes quando comparadas ao resto do filme. A sequência que mostra uma invasão hippie à festa, que acontece perto do final, é a melhor prova disso, esta é de longe a pior passagem do filme. A inserção de um animal de porte considerável em cena é apelativa e só aponta para a falta de algo que melhor retratasse o caos que se instalara no local. Este não é um filme ruim, tampouco um clássico indispensável, o recomendo para quem curta comédias pastelão e para os fãs de Sellers e de Edwards...
Não sei se esta crítica feita aos "hollywoodianos" foi ou não intencional, Blake Edwards nunca a admitiu publicamente, mas como o ano era 68 (o ano que não terminou como bem diria Zuenir Ventura), qualquer indício de politização e contestação era percebido rapidamente e a revista francesa Cahiers du Cinéma (que tinha em seu expediente Godard, Truffaut, Rivette e Chabrol) não deixou este passar batido, em seu artigo publicado no periódico o crítico Pascal Bonitzer resumiu: “Um ator que simboliza o terceiro-mundo destrói uma mansão que simboliza Hollywood – uma alegoria da revolução que vai revolucionar o cinema”. Tal interpretação pode ser um pouco exagerada, mas dada a época em que foi publicada, ela era realmente válida, pois de alguma forma o filme ilustrava uma parte da revolução política e estética que o cinema então experimentava.
Hrundi é um ator sem nenhum prestígio em Hollywood, ele não nasceu para ser galã e ainda tem um dom infalível para fazer burradas e atrair confusão. O prólogo do longa o mostra durante as filmagens de um épico no qual ele está atuando como coadjuvante. Ele consegue atrasar o andamento das gravações por não aceitar encenar a morte de seu personagem, um tocador de trombeta que se recusa a tombar ao ser atingido em batalha. Isso deixa o diretor do filme enfurecido, mas este é só o começo, em seguida o coadjuvante aparece em outra cena usando um relógio de pulso, algo inconcebível em filme que se passa em 1878. No entanto, a paciência do diretor vai para as aturas é quando Hrundi consegue acionar acidentalmente o detonador de um explosivo que destrói parte da locação antes da hora prevista.
O diretor garante que o desastrado nunca mais irá atuar nem no cinema nem na televisão, ele então liga para um dos magnatas de Hollywood e lhe propõe um boicote ao ator. A verdadeira confusão, que dá o mote ao filme, acontece no momento que este magnata anota o confuso nome do encrenqueiro, sem perceber ele escreve o nome no rodapé de uma lista de convidados para um festa de gala, que ele daria em sua mansão. Hrundi é então convidado por engano, dispensável dizer que ele aceita prontamente o convite e aparece na festa mesmo sem conhecer ninguém que estará lá. Durante boa parte da noite ele fica perdido tentando se relacionar com outros convidados, o que não é uma tarefa fácil, pois nenhum deles, com exceção do já citado ator de faroeste, consegue enxergar além de seus próprios egos.
Quando começou a rodar Um Convidado Bem Trapalhão, Blake Edwards tinha pouco mais de 50 páginas de roteiro escrito, quase tudo que vemos na tela é resultado da improvisação dele e do ator, que acreditavam já ter uma química bem desenvolvida, mas a verdade é que isso por si só não foi o suficiente. A carência de um roteiro fica explicita em algumas sequências bem irregulares, que parecem destonantes quando comparadas ao resto do filme. A sequência que mostra uma invasão hippie à festa, que acontece perto do final, é a melhor prova disso, esta é de longe a pior passagem do filme. A inserção de um animal de porte considerável em cena é apelativa e só aponta para a falta de algo que melhor retratasse o caos que se instalara no local. Este não é um filme ruim, tampouco um clássico indispensável, o recomendo para quem curta comédias pastelão e para os fãs de Sellers e de Edwards...





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